sábado, 27 de junho de 2015

Sonho intenso

A pátria amada esteve em prantos diante das atitudes de seus filhos. A mãe lhes ensinou o amor, e em contramão, seus filhos acolhiam o ódio. No teu seio, há amores; enquanto alguns filhos fogem à luta. Essa terra adorada é onde seus filhos deveriam amar uns aos outros sem distinção de religião, cor, gênero ou condição sexual.

A liberdade cantarolada em seu hino parece ser uma utopia. O céu não está tão formoso e, tampouco, risonho, pois os irmãos encontram-se em conflito. De um lado, uns lutam com braços fortes a favor da igualdade. Outros, contrariando o progresso registrado em nossa bandeira.

Mas por que o Brasil de amor eterno ainda busca tanto uma definição para “família”? Por que há a necessidade em crer na existência de um conceito, sendo que é impossível definir algo de tamanha multiplicidade de significados? O que se passa em um lar não diz respeito a ninguém além dos que ali habitam.

Agora é o momento. Está nas emissoras de rádio e TV, nos jornais e revistas, nas rodas de conversa. É a hora de mostrarmos a força de nossos braços, lutando pela igualdade. Lutando contra aqueles que, ao invés de nos proteger, querem nos privar dos nossos direitos. Lutando contra aqueles que, ao invés de nos respeitar, querem nos reprimir.


Os herdeiros da mãe gentil não querem que você seja contra ou não. Eles querem que você abrace a bandeira a favor da felicidade e do respeito às liberdades individuais. O sonho intenso é a paz no futuro, e o sol mal vê a hora de iluminar esse Novo Mundo.

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domingo, 23 de dezembro de 2012

Retrato do homem do século XXI

Não acreditava quando o despertador tocava. Eram noites mal dormidas pensando em seus negócios. Como se eles fossem os únicos problemas... Mas eram os únicos os quais dava importância. Ele adorava ser alienado e ter as mesmas opiniões sobre tudo. Obedecia a todas as regras. Evitava falar, exceto para fazer os seus discursos moralistas. Via sua família por algumas horas do seu dia, e mesmo assim aproveitava para reclamar e fazer cobranças.

O seu maior hábito era o de tomar uma xícara de café com uma colher de ignorância antes de sair de casa. Sua cara fechada transmitia um ar ríspido aonde quer que ele fosse. Seguia mecanicamente os seus horários e detestava chegar ao trabalho atrasado por causa de engarrafamentos. Era prazeroso para ele ter o dia lotado de reuniões e sentar-se numa mesa repleta de papéis. Isso lhe proporcionava uma enxaqueca que o impedia de pensar no seu individualismo.

E quando voltava para o seu lar, o crepúsculo já caíra. Tomava um banho rápido para não perder o telejornal. Antes de repousar, agradecia a Deus por mais um dia. Por mais um dia previsível. Apagava as luzes e fechava os olhos: estava cansado porque realizava a simples tarefa de existir sem saber viver.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Read my mind

Gostaria de falar um pouco de mim. Nunca me considerei um escritor. Nunca me senti um poeta. Costumava escrever por escrever. Relatar as frustrações  Descrever minhas ilusões. E é tão difícil começar a escrever essa confissão, já que não estou sentindo nenhum tipo de frustração ou ilusão. 

É incrível como o inesperado pode mudar o que somos ou o que pensamos. Tudo aconteceu de tal forma que meus conceitos e valores foram descartados. Tudo por você. É muito cedo para pensar em alguma coisa, por isso estou vivendo o agora. Você faz parte do meu presente, é isso o que importa. 

Tenho uma lista de adjetivos que podem descrever o que eu era até pouco tempo. Inseguro. Orgulhoso. Racionalista extremo. Eu dava prioridade a tudo o que me mantinha o menos vulnerável possível. Esse casulo que usei me privou de sentimentos, momentos e pessoas, pois tive medo de falar. Ou simplesmente medo de me entregar. E contigo está sendo diferente. Aliás, você está me trazendo toda a segurança que eu nunca tive. 

Como qualquer pessoa, tive meus preconceitos contra você. Leve isso pelo lado positivo, porque se não fosse por isso, eu não estaria tão surpreso. Seus olhos castanhos ainda escondem muita coisa. Indecifrável. Gosto desses mistérios que todos guardamos, que com o tempo serão revelados. Depende de nós e da intensidade dos nossos desejos. 

Algumas horas mudaram totalmente o meu ponto de vista. Sinto-me bem contigo. Esse laço que foi traçado é forte. Minha timidez está distante e não voltará enquanto você estiver por perto. Nem minha insegurança. Para eu poder afirmar tudo isso, é porque realmente me faz bem. É mais do que eu e você, é mais do que contato, é questão de uma energia que eu não sei explicar. 

Uma mistura de êxtase e ansiedade. Quando mal percebo, estou paralisado, olhando para o infinito e sorrindo. Inconscientemente, sei quem é o motivo. Não quero que o tempo seja traiçoeiro comigo e demore a passar. Não quero entender nada, não quero supor nada. Quero você nos meus braços novamente, apenas. 

Por último, encontrei um antigo manuscrito de um ou dois anos atrás. Pode fazer algum sentido com o que eu estou tentando escrever. Ou não. 
“Algo me leva a pensar que sentirei algo que jamais senti. Não sei se você já chegou, ou ainda está por vir. (...) Um toque, um abraço, um beijo, um conforto. Tudo está guardado em mim, reservado a você”.
Acho que é isso.

"Well, I don't mind if you don't mind, cause I don't shine if you don't shine."

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Irrelevante


Abri os olhos lentamente. Tudo o que estava no meu campo de visão era a janela que apontava para um horizonte distorcido. O sobretudo estava sobre o chão e exalava um cheiro de nicotina que preenchia o quarto. Sei lá, não fumo. Era só mais uma coisa sem sentido entre as milhares que eu não procuro entender. Fato é que eu estou cansado de procurar uma explicação lógica para a falta de nexo que o destino traz ironicamente.

Virei-me para o criado-mudo. Percebi que as flores secas do vaso de porcelana não eram trocadas mais. Estiquei meu braço e peguei minha carteira. Levantei-me, vesti um casaco e saí.

A rua estava movimentada como sempre. Passei pelas pessoas sem desejar bom dia, coloquei as mãos nos bolsos e caminhei sobre as poças d’água. Se chovesse mais tarde, não importava. O que importava era que eu não me importava mais.

Os vidros embaçados da livraria da esquina me chamaram a atenção. Entrei e comecei a folhear alguns livros. Poderia ficar ali por horas e horas, só para não voltar e encontrar tudo do avesso. Só para fugir do apego e daquele azul celestial que eu costumava sentir. Só para não pensar em você.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sem choro, sem fé, sem poesia


Com licença, não quero lhe incomodar. Só quero roubar alguns minutos do seu tempo. Por favor, feche a porta e leia apenas com os olhos. Os outros não precisam saber. Apenas você. Não acenda a luz. A claridade do abajur basta.

Cansei de pegar o violão e compor as mesmas rimas. Todos os versos foram para o lixo. Eu queria que as lembranças fossem junto, mas não. Estão aqui. Vivas, me matando. Você foi meu tudo, eu fui seu nada. A maré me levou para longe, porém não me afogou. Queria que tudo terminasse ali, contudo o destino me vetou esse direito.

Por mais algumas semanas, essa tortura foi me consumindo mais e mais. Esse teto de vidro quebrou e me cortou em mil pedaços. A primeira rachadura foi você quem causou. Está tudo vermelho e com um gosto peculiar de lágrimas misturadas com sangue. Perdoe-me, não é drama, não é banalidade. É a realidade que você faz questão de fugir.

Dizem que se há sombra, há luz. Sua sombra me persegue até quando me deito no meu leito. Mergulhei na escuridão que fui me refugiar. Lá, não havia você. Não havia luz. Descobri que a luz era só uma ilusão para confortar os corações mais frágeis. E nesse cenário fúnebre digo adeus a você. Digo adeus às lembranças. Digo adeus à dor. Digo adeus às mentiras. Não preciso viver com isso mais. Sem choro, sem fé, sem poesia. Au revoir.

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Chegue mais perto, pegue esta taça de vinho. Estou lhe propondo um brinde à sua indiferença. Aquele coração não bate mais por você. Não bate por mais ninguém. Congelou-se, petrificou-se. Tomemos apenas um gole, não precisa se preocupar. Ela foi embora. Está procurando alguém que a ajude a ressuscitar o significado da felicidade. E reviverá.
 
 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cinco sentidos


Uma neblina densa cobria o meu caminho. Era impossível enxergar alguma coisa, era um impedimento da natureza para que eu não chegasse até você. E eu tinha a esperança de poder ver o seu rosto com aquela feição bucólica de costume. Essa expressão que me deixava perdido por causa dos seus olhos interpretáveis. A falta de nitidez se opunha aos finais de tarde que já vivemos, apreciando o por do sol enquanto éramos banhados por todo aquele brilho alaranjado. Os dias não são os mesmos. E eu tenho que me contentar com esse branco infinito que me proíbe de estar ao seu lado. 

Sinto falta do aroma do seu perfume barato. Vou a lugares que frequentávamos e sinto o cheiro da colônia que você usava, mesmo com tua ausência. Sinto falta da mistura de olências que era causada pelos nossos abraços. Sinto falta do cheiro das matas verdes dos campos que já desbravamos juntos. A sala de estar ainda é tomada pelo aroma de lavanda que você tanto adorava. Não tem jeito, o olfato é meu ponto fraco. Seu olor me conquistou e você já deve ter trocado de fragrância. 

Meu paladar aprendeu a gostar de todos os seus pratos preferidos. Nos nossos últimos momentos, suas palavras foram azedas. A doçura entre nós não existia mais. Lágrimas salgadas caíram na hora que você disse adeus. Agora que estou só, sinto o gosto amargo do café que tomo em todas as noites de insônia. Só não é tão amargo quanto um sentimento desgastado. Só não é tão amargo quanto você. 

Sou possuído por esse desespero provocado pelas lembranças. Meus lábios não serão mais tocados pelos seus. Guardo recordações de quando minha mão tocava o seu rosto para secar alguma lágrima ou de quando sentia teu cabelo macio entre meus dedos, enquanto nos beijávamos. Nosso contato é o que mais me dá saudade. E também do calor dos nossos abraços. 

Tive que ouvir todas as suas desculpas. Todos os seus insultos. E tudo o que eu queria ouvir, você não disse. Escuto sua canção favorita e a cada nota da flauta doce, lembro dos nossos momentos. Se você estivesse aqui, seus ouvidos escutariam que você é o que aconteceu de mais importante na minha vida e que agora estou encontrando algum meio de levá-la adiante sem você. Não estamos mais sintonizados. Perdi a frequência da sua rádio e a sua voz não ouvirei.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Teu nome

Chegou em casa após um dia cansativo. Resolveu tomar um banho. Enquanto a água quente escorria pelo seu corpo, se perdeu em seus devaneios, subitamente. Não via motivos para ter lembrado daquela pessoa depois de tanto tempo. Talvez porque tivesse lido todas aquelas poesias escritas na época. A ingenuidade era evidente a cada palavra escolhida. Frases curtas escritas a alguém que lhe significou muito e que possivelmente não foi recíproco. Não era amor. Não era aventura. Era algo indescritível.

Depois do banho, foi até seu guarda-roupas e releu aquele caderno empoeirado e deixado de lado, como suas memórias. Todos os textos sem sentido que perderam a essência nas noites escuras dedicadas à um nome. Um nome que não lhe tocava mais. Um nome que não provocava mais aquela fadiga e pingos de suor que frequentemente deslizavam pelo seu rosto. Um nome que não aparecerá mais em seus rascunhos. Um nome que o vento levou para longe, para um lugar melhor do que aqui. Lá, encontrará outro nome. Um nome que ensine a amar, que faça sofrer. Outro nome que se repita a cada frase dita. Um nome que nunca foi o meu.