Ele tinha várias manias. A maior delas era a de complicar o perfeito. Ele era apaixonado por complexidades. Gostava de bagunçar o impecável. Ocupava a maior parte do seu tempo procurando insatisfações. Passava os dias tentando convencer-se de que sua vida não tinha sentido algum. Essa era sua maior tolice, porque a brisa sempre soprava a seu favor, mas ele fazia questão de caminhar contra o vento. Ele era um caçador de descontentamentos.
Tinha um vício incomum. Privava-se de tudo: do amor, da harmonia, da compaixão, da satisfação. Não optava pelos caminhos simples. O mais trabalhoso sempre lhe chamou mais atenção. Todavia, nunca quis se ferir, se maltratar. Este era um ato inconsciente e persistente.
Também tinha seus otimismos que se opunham aos pessimismos. Sempre reservava algumas horas de suas noites para observar o céu. Fazia questão de ter os seus minutos com a natureza e com sua imaginação. Escolhia a hora em que a rua não estava movimentada para sentar-se na calçada e admirar as estrelas. Só conseguia ver todo aquele brilho por causa da escuridão. Consigo, era o mesmo caso.
Até que se deu conta de que seu destino dependia do poder de sua mente. Era difícil ter algum pensamento positivo em meio à tantas teorias da conspiração que já criara. Nunca pensava em si mesmo – o egoísmo era só uma máscara. Colecionava suposições sobre o pensamento dos outros que fazem parte da sua história. Talvez pelo ócio, talvez pela mania de se privar. Ele fazia parte dos que pensavam, não dos que sentiam. E se não fosse por isso, ele não seria um bom contador de histórias. Narrar suas mudanças constantes era mais do que um passatempo – era sua sina.