sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Complicações

Era uma manhã ensolarada de domingo. Já passara a primeira metade do século XX. A estação rodoviária daquela cidade pacata estava agitada. O relógio de pulso de Flávio marcava quinze para as onze. Ele era mais um jovem que foi dedicar seus estudos de Direito na capital. Sua família já tinha se despedido e partido da estação. Com ele, só estava Lívia. Tratava-se de mais um romance adolescente. Um romance tímido, daqueles que só é preciso de um sinal, de um gesto, de uma frase. 
As pessoas já começavam a entrar no ônibus que ia em direção ao Rio. A plataforma estava tomada pelo cheiro da fumaça liberada pelo escapamento do ônibus. Foram longos minutos de trocas de olhares, até que Lívia disse: 
– Eu sei que é tarde demais para falar o que eu sinto por ti. Mas tudo é tão complicado aqui dentro. Tudo é tão complicado em você. Insegurança não é desculpa, pois sempre soubemos o que sentimos um pelo outro. 
Flávio ficou em silêncio. Um silêncio conformativo. Era verdade tudo o que acabara de ouvir. A abraçou e segundo depois, roubou-lhe um beijo – o primeiro e último que eles tiveram. 
Foi um momento muito curto, porém o mais esperado. Flávio abraçou Lívia mais uma vez e se despediu. Lívia o viu entrar no ônibus. Ficou ali até que este desaparecesse de vista. E se foi. 
Um mês depois, Lívia recebeu uma carta de Flávio. Bateu os olhos rapidamente naquelas palavras e foi direto na parte que mais lhe interessava: 
“(...) Em todo lugar, fico pensando como seria se eu tivesse feito o que eu queria, sem que minha insegurança não tivesse me proibido. Talvez eu não estivesse como agora   ansioso, esperando por estar perto de você. Mas tudo bem, posso fingir que sou paciente, que vou saber esperar com calma. O jeito é parar de pensar no que eu deveria ter feito e começar a pensar no que farei (...)”. 
Não dizia muita coisa, era apenas uma forma de dizer que ele a amava. Lívia compreendeu. Mas ela não se iludiu. Ela sabia das possibilidades de Flávio se apaixonar por outra garota no Rio de Janeiro. Mas nada se sabe sobre o que acontecerá no dia seguinte. O destino prega peças e ainda faltavam muitos meses para as férias. Com aquela carta na mão, decidiu deixar as coisas fluírem. Nada melhor que dar tempo ao tempo.

2 comentários:

  1. Vamos ver se dessa vez funciona... Já tentei enviar um comentário a esse texto pelo menos três vezes e deu erro; abri em outro navegador :)

    Enfim, acho que a minha paixão pelo século passado está afetando a você também (risos). Essa atmosfera anos 30/40/50 sempre me fascina. As coisas parecem mais bonitas, não sei... mais sinceras, pelo menos.
    E o seu jeito de escrever, meu amigo, dispensa comentários! Parabéns pelo talento e pelo texto (:
    Abraço!

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    1. Estou decepcionado com o seu navegador ):
      Sempre gostei dessa coisa vintage. A segunda metade do século XX é tão inovadora, significou uma revolução no pensamento das pessoas, no estilo de vida e principalmente do que eu mais gosto: a revolução musical. Tudo atualmente é inspirado naquela época, não é original.
      Resolvi juntar o passado com um fato do presente e o resultado tá aí. Obrigado Lari! s2

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