sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Nostalgia

Era um final de tarde qualquer. O tédio fazia parte dos meus dias. Caminhar pelo meu quarto, pensando inutilmente, era rotineiro. Olhei para a janela e vi o ipê florido. Estranho, era inverno e não fazia frio. Parecia primavera, por mais que ainda faltavam alguns meses para setembro chegar. Indagar seria perca de tempo, não se questiona a natureza. Então resolvi ir para o jardim, pensar sobre a vida.
Sentei-me sobre o gramado. Analisei um pouco as flores que minha mãe plantara. Azaleias, rosas e hortênsias transmitiam a paz que a natureza pode oferecer. Senti-me profundamente bem. O vento soprava suavemente naquela tarde solitária, até que me lembrei do que me chamou a atenção ali: o Ipê. Suas flores roxas caíam sobre a grama verde. Comecei a pensar sobre o amor.
Pensamentos súbitos sobre esse sentimento passaram pela minha cabeça. Nada complexo. Refleti sobre meus casos do passado. Não só os meus, mas sim os de todos que são próximos a mim. 
Quando o amor é novo e doce, a gente não enxerga os defeitos. Coloca a pessoa num pedestal. Tudo o que a gente escreve, é pensando em quem amamos. E quantas vezes todos nós nos questionamos se somos suficientes? O tempo todo. 
A gente deposita todo o nosso amor na pessoa, sendo que a maior parte desse amor deveria ser guardada para nós mesmos. Mais importante do que o amor entre dois seres, só o amor próprio. E é isso que falta quando estamos apaixonados.
Porém os meses (ou os anos) passam. Chega a hora em que se percebe que a pessoa não ficará o tempo todo ao seu lado. O mundo parece desabar. Músicas depressivas são consolos. O que foi feito com aquele sentimento perfeito? Com o amante perfeito? Agora começamos a concluir que os defeitos prevalecem sobre as qualidades que tanto exaltávamos. Hora de cair na real. Uma pitada de arrependimento por ter feito questionamentos ingênuos para nós mesmos.
Então recomeçamos a procura por alguém. “A pessoa é demais para mim?” – mais uma pergunta tola. São os outros quem têm que nos merecer. E a história se repete, o que muda é o amante.
Dei-me conta de que a noite já surgira. Voltei para o meu quarto e dei um sorriso bobo. Vi um pedaço de papel sobre a escrivaninha, peguei uma caneta e escrevi: “Nunca entenderei esse tal amor”. Desliguei a luz, fechei a porta e saí para ver o que a noite me reservava.

Ipê visto da janela do meu quarto

4 comentários:

  1. Felipe, parabéns pelo texto, e pelo blog. Achei o texto sutil, simples, delicado. Você tratou com simplicidade as coisas que vivenciou, acho isso interessante. Pude imaginar toda a calma que sentiu em meio as plantas e o ipê descrito.

    Muito bom. Continue assim.
    Paulo Roberto.

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    1. Oi Paulo, obrigado pelas suas palavras! É muito estranho ter um blog, estou sentindo frio na barriga, sei lá... E o curioso é que eu descrevi o jardim daqui de casa, mas não vivi esse momento. Na verdade, era a madrugada de hoje, eu estava deitado na minha cama com o meu notebook e escrevi esse texto para ser o primeiro do blog.
      Volte sempre!

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  2. Acho que não vou conseguir explicar o quanto esse texto me tocou. Sabe, é tão raro que ainda exista alguém com sentimentos assim: puros, fáceis, explicáveis. Brilhante a forma com que você nos conduz a um universo diferente, passando com sutileza da realidade para o abstrato - do ipê, para o amor. “A pessoa é demais para mim?”, depois de ler tudo isso, eu indagaria justamente o contrário.
    Parabéns! E saiba que estou com um orgulho danado de ser sua amiga! Tenha certeza de que vou visitar esse blog com frequência. Obrigada por compartilhar um pouco dos seus pensamentos conosco.

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    1. Nossa, não sei o que falar. Li esse comentário umas dez vezes e a única coisa que eu posso te dizer é um muito obrigado. Escrevi esse texto com tanta simplicidade, nem imaginaria um elogio desse nível. Descrevi um lugar e, em seguida, meus pensamentos. Muito básico. Agora eu acredito no meu potencial. Você será sempre bem-vinda ao meu blog, pode ter certeza!

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