Todos acordavam com o badalar dos sinos da igreja daquela cidade centenária. O clima seco da região e algumas pessoas de lá deixavam o ar pesado. Ver os dias passarem e não ter nada para fazer era desanimador. Mesmo com casas de muros baixos, muitos não se sentiam livres. E com motivos.
As ruas eram cheias de mentes vazias. As crianças eram criadas como se vivessem longe do individualismo. Os jovens ignoravam o conservadorismo. Os mais velhos, por sua vez, iam à paróquia todos os domingos para rezarem suas hipocrisias. Porém, todos concordavam que os sonhos, as esperanças e a liberdade se encontravam bem longe dali.
Todos na cidade conversavam entre si. Mas não se conheciam. Pareciam estranhos e mais distantes à medida que o tempo passava. Era habitual caminhar pela rua e ver alguém que já foi tão próximo e não poder trocar palavra alguma. E doído fingir que aquilo não importava. As relações eram feitas pelo acaso e destruídas pelo descaso.
Não é a cidade perfeita para se morar. Sobretudo, foi ali que cresci e vivi. Minha história começou ali. Momentos tristes e os mais felizes aconteceram ali. Minhas primeiras amizades são dali. As pessoas que mais se preocupam comigo e que querem o meu bem são dali. Sendo assim, aquele é o único lugar que eu posso chamar de lar.
A gente chama de lar o lugar onde está o nosso coração. Desse jeito que o seu coração está nessa cidade – que ambos sabemos qual é – apesar de todos os defeitos. Aliás, o que existe nesse mundo que possa ser ao menos perto da perfeição, não é mesmo?
ResponderExcluir"As pessoas que mais se preocupam comigo e que querem o meu bem são dali", acho que é o suficiente para fazer você gostar dessa cidade. O que mais haveria de importar? Não há nada tão precioso quanto o amor mútuo, não importa de onde venha.
Não é o lugar. São as lembranças.
E as suas lembranças, amigo, transformariam em "lar" qualquer cidade: mesmo que alguns dos bons momentos sejam ofuscados pelos maus.
Parabéns pelo texto! Amei!
Sério mesmo que você amou? Achei o texto tão sem graça... Mas é isso mesmo, por mais que eu não vivo no lugar perfeito, as minhas lembranças e os meus laços me mantêm presos àquele lugar. Nada mais aconchegante do que estar em casa. Obrigado, Lari!
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